10º dia
É... Dez dias passaram rápido.
E ainda acho mil motivos pra escrever.
Ainda percebo mil coisas novas, mil detalhes, mil pequenas diferenças no modo de viver.
E, claro, percebo que estou me acostumando à vida aqui.
O primeiro ponto que me grita a rápida adaptação é que não acho mais as pessoas daqui tão feias.
Não sei se é porque na UFRJ as pessoas não são feias, ao contrário da maior parte dos locais que conheci por aqui, mas o fato é que já encontrei gente bonita, e cada vez menos vejo gente feia.
As pessoas não podem mudar tão rapidamente, em tão grande quantidade.
São meus olhos.
Por falar em olhar, gosto tanto de perceber os numerosos grafittis gigantes ao longo dos viadutos, paredes de trilhos dos trens, túneis... Em qualquer mínimo espaço de parede público há um grafitti bem desenhado. Em espaços maiores, há obras de arte majestosas.
E eu penso no Pedrinho sempre que vejo os grafittis em pixel art, principalmente os de jogos que há na entrada sul do Túnel Acústico.
Ele iria gostar.
Observo isso tudo sentado dentro de um ônibus. Se eu às vezes reclamava de levar 15 minutos pra ir de casa ao trabalho no sul, aqui fico feliz quando levo 40 minutos dentro do ônibus mais 15 minutos de caminhada, percorrendo um trajeto semelhante (em comprimento) ao que eu fazia em Novo Hamburgo. Em menos de umas semana, já tive ocasião de passar 2h no ônibus, e, pior, 3h para o mesmo trajeto, sem que houvesse um incidente trancando a rodovia.
Tráfego simples, não?
E, em passagens de ônibus, meu dinheiro vai rápido. Mesmo comendo a R$2,00, o bolso se esvazia em um ritmo desgraçado! Tudo é realmente caro, e ser um desempregado não está ajudando. Bolsa de Iniciação Científica, te quero!
Eu ainda estranho as pessoas. Praticamente não há cabeludos por aqui! E, se não vejo camisetas de banda, vejo um excesso de camisetas de autopromoção, tais como "your boyfriend gave me this t-shirt", "I'm one of the best people I know" e "all the girls are dying of jealousy about my style". Há muita gente assoberbada. E eu achava que esse era um defeito tipicamente gaúcho!
Por falar em gaúcho, tenho estado muito mais gaudério. Isso não é só porque estou aqui, afinal, já tem um tempo que venho participando mais da cultura. Mas estar aqui acentuou. Na fala, nos trejeitos, na música, e até no bairrismo (aquele maldito!). Em todo caso, estou cercado por cariocas. Se eu não for bem gaúcho, ninguém vai ser por mim!
Ah, e o sotaque carioca é bem familiar aos que assistem à televisão, bem sei. Entretanto, nunca tinha percebido o potencial que tem esse modo de falar para criar gente fanha. É muito comum encontrar vozes anasaladas por aqui. Por enquanto, ainda dói o ouvido.
Também há uma grande quantidade de fuscas azuis. Sinto falta da gurizada se soqueando (afinal, não existe isso por aqui), com aquela cumplicidade inerente ao fato de saber que o laço é tão forte que podemos até nos agredir, e tudo se mantém, sem briga, sem raiva, só amizade e parceria.
E eu vi gente de cachecol por aqui. E olha que nem chegou o inverno!
O dia estava, sim, quente. Não o calor sufocante que a umidade do sul proporciona, mas um calor seco que faz suar constantemente.
Que grande sacrifício fazia aquela guria, não?
Tudo pelo estilo?
Estética não é, assim, tão importante.
Aqui se come muito arroz e feijão, e nunca massa. Isso faz uma falta inexplicável.
Fiquei feliz comendo gnocci ("nhoque") no RU, mesmo com a diferença gritante. Fez falta aquela textura mais consistente, porque o daqui chegava a grudar na boca. Ainda assim, fui feliz.
Mas preferi ontem cozinhar uma massa ao molho dois queijos para o povo da casa onde estou hospedado. Era para ser molho três queijos, mas, inexplicavelmente, um dos queijos sumiu no caminho de volta do mercado.
Não ficou uma massa do Più Buono (e que saudade da vó cozinhando lá!), mas ficou excelente, de qualquer forma.
Ah, e falta na UFRJ um gramado legal pra deitar tranquilo depois do almoço. Os daqui não têm a tão desejada sombra.
Nem a ainda mais desejada companhia.
E, depois de tanto escrever, ainda tenho uma reclamação. Vim para uma universidade federal muito conceituada. Não esperava chegar aqui e ver um tempo muito mal aproveitado. Não queria ver professores tendo que dizer "agora vocês vão ter que se adaptar, porque isso aqui não é mais ensino médio". A obviedade é enorme. Mesmo assim, há muita infantilidade negativa. Me entristece deveras. Mas vai ser feliz ao fim disso tudo, quando cada um tiver crescido o quanto precisar.
Bueno, bom domingo pra vocês, que o sol aqui tá lindo e eu tenho que estudar!
E ainda acho mil motivos pra escrever.
Ainda percebo mil coisas novas, mil detalhes, mil pequenas diferenças no modo de viver.
E, claro, percebo que estou me acostumando à vida aqui.
O primeiro ponto que me grita a rápida adaptação é que não acho mais as pessoas daqui tão feias.
Não sei se é porque na UFRJ as pessoas não são feias, ao contrário da maior parte dos locais que conheci por aqui, mas o fato é que já encontrei gente bonita, e cada vez menos vejo gente feia.
As pessoas não podem mudar tão rapidamente, em tão grande quantidade.
São meus olhos.
Por falar em olhar, gosto tanto de perceber os numerosos grafittis gigantes ao longo dos viadutos, paredes de trilhos dos trens, túneis... Em qualquer mínimo espaço de parede público há um grafitti bem desenhado. Em espaços maiores, há obras de arte majestosas.
E eu penso no Pedrinho sempre que vejo os grafittis em pixel art, principalmente os de jogos que há na entrada sul do Túnel Acústico.
Ele iria gostar.
Observo isso tudo sentado dentro de um ônibus. Se eu às vezes reclamava de levar 15 minutos pra ir de casa ao trabalho no sul, aqui fico feliz quando levo 40 minutos dentro do ônibus mais 15 minutos de caminhada, percorrendo um trajeto semelhante (em comprimento) ao que eu fazia em Novo Hamburgo. Em menos de umas semana, já tive ocasião de passar 2h no ônibus, e, pior, 3h para o mesmo trajeto, sem que houvesse um incidente trancando a rodovia.
Tráfego simples, não?
E, em passagens de ônibus, meu dinheiro vai rápido. Mesmo comendo a R$2,00, o bolso se esvazia em um ritmo desgraçado! Tudo é realmente caro, e ser um desempregado não está ajudando. Bolsa de Iniciação Científica, te quero!
Eu ainda estranho as pessoas. Praticamente não há cabeludos por aqui! E, se não vejo camisetas de banda, vejo um excesso de camisetas de autopromoção, tais como "your boyfriend gave me this t-shirt", "I'm one of the best people I know" e "all the girls are dying of jealousy about my style". Há muita gente assoberbada. E eu achava que esse era um defeito tipicamente gaúcho!
Por falar em gaúcho, tenho estado muito mais gaudério. Isso não é só porque estou aqui, afinal, já tem um tempo que venho participando mais da cultura. Mas estar aqui acentuou. Na fala, nos trejeitos, na música, e até no bairrismo (aquele maldito!). Em todo caso, estou cercado por cariocas. Se eu não for bem gaúcho, ninguém vai ser por mim!
Ah, e o sotaque carioca é bem familiar aos que assistem à televisão, bem sei. Entretanto, nunca tinha percebido o potencial que tem esse modo de falar para criar gente fanha. É muito comum encontrar vozes anasaladas por aqui. Por enquanto, ainda dói o ouvido.
Também há uma grande quantidade de fuscas azuis. Sinto falta da gurizada se soqueando (afinal, não existe isso por aqui), com aquela cumplicidade inerente ao fato de saber que o laço é tão forte que podemos até nos agredir, e tudo se mantém, sem briga, sem raiva, só amizade e parceria.
E eu vi gente de cachecol por aqui. E olha que nem chegou o inverno!
O dia estava, sim, quente. Não o calor sufocante que a umidade do sul proporciona, mas um calor seco que faz suar constantemente.
Que grande sacrifício fazia aquela guria, não?
Tudo pelo estilo?
Estética não é, assim, tão importante.
Aqui se come muito arroz e feijão, e nunca massa. Isso faz uma falta inexplicável.
Fiquei feliz comendo gnocci ("nhoque") no RU, mesmo com a diferença gritante. Fez falta aquela textura mais consistente, porque o daqui chegava a grudar na boca. Ainda assim, fui feliz.
Mas preferi ontem cozinhar uma massa ao molho dois queijos para o povo da casa onde estou hospedado. Era para ser molho três queijos, mas, inexplicavelmente, um dos queijos sumiu no caminho de volta do mercado.
Não ficou uma massa do Più Buono (e que saudade da vó cozinhando lá!), mas ficou excelente, de qualquer forma.
Ah, e falta na UFRJ um gramado legal pra deitar tranquilo depois do almoço. Os daqui não têm a tão desejada sombra.
Nem a ainda mais desejada companhia.
E, depois de tanto escrever, ainda tenho uma reclamação. Vim para uma universidade federal muito conceituada. Não esperava chegar aqui e ver um tempo muito mal aproveitado. Não queria ver professores tendo que dizer "agora vocês vão ter que se adaptar, porque isso aqui não é mais ensino médio". A obviedade é enorme. Mesmo assim, há muita infantilidade negativa. Me entristece deveras. Mas vai ser feliz ao fim disso tudo, quando cada um tiver crescido o quanto precisar.
Bueno, bom domingo pra vocês, que o sol aqui tá lindo e eu tenho que estudar!
Ler você acalma um pouco a saudade. <3
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